Day: 29 de junho de 2009

Empresários desconfiam do governo, diz pesquisa

Da Agência Estado, 28/06/09

Falta de confiança nas ações governamentais, insatisfação com política externa e pouco apoio à atividade empresarial. As reclamações dos empresários latino-americanos sobre seus governantes parece ir além dos discursos oficiais de representantes do setor privado. É o que mostra uma pesquisa inédita da consultoria espanhola Llorente & Cuenca, realizada com mil executivos e políticos, em sete países da América Latina e na Espanha. Pelo menos 76% dos empresários entrevistados não confiam nas ações do governo e 72% reclamam da insegurança jurídica em seus países.

No Brasil, onde a interação entre empresários e governo se intensificou com a crise, resultando em algumas das políticas anticíclicas anunciadas recentemente, o grau de insatisfação é semelhante a de países vizinhos como Venezuela e Argentina. Segundo a pesquisa, 84% dos homens de negócios brasileiros não confiam nas políticas de governo. E 96% acreditam ter pouca influência sobre a elaboração de políticas econômicas. “É o mesmo índice da Argentina, onde o relacionamento do setor privado com o governo é reconhecidamente ruim”, diz Thomas Traumann, diretor da LLorente & Cuenca e coordenador do estudo no País.

A falta de segurança jurídica para realização de negócios no Brasil é um dos pontos críticos da relação governo-empresariado. De acordo com a pesquisa, 85% dos executivos consideram o grau de segurança das leis nacionais ruim, muito ruim ou regular. Apenas no México e no Equador há mais reclamações sobre o tema. No âmbito internacional, a percepção sobre as políticas públicas também é negativa. Setenta e três por centro dos empresários do País não se sentem apoiados pela política externa do governo.

Boa parte do mau humor dos empresários se deve ao período de realização da pesquisa: entre outubro do ano passado e janeiro, auge da crise financeira. Mas a indisposição do setor privado com os políticos também está relacionada ao peso do governo na atividade econômica desses países. “Na América Latina, é a política oficial que faz o país andar”, diz Traumann. Por isso, a posição crítica ante as iniciativas governamentais.

Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), entidade que reúne 45 representantes de grandes companhias nacionais, o sentimento dos empresários ouvidos na pesquisa reflete um amadurecimento do sistema democrático brasileiro. “Temos hoje um alto grau de representação para vários segmentos da sociedade. A maioria das decisões do governo são fruto do embate, da discussão, de forma que dificilmente algum grupo se considera influente”, diz Almeida.

Segundo o representante, a relação entre o empresariado e os governantes evoluiu nos últimos anos. Um componente dessa mudança é a criação, em 2003, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, vinculado à Presidência da República. O órgão reúne membros do governo e da sociedade civil, com objetivo de assessorar o presidente na elaboração de políticas. “O Conselhão foi um avanço na interlocução.”

A visão é compartilhada pelo diretor executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes. “O diálogo entre governo e setor privado tem aumentado nas mais diversas áreas.” Segundo ele, dentre os países da América Latina, o Brasil tem, ao lado do Chile, as instituições mais estruturadas, tanto na sociedade civil quanto no setor empresarial. “Mas os demais países da região têm muitos governos hostis ao setor privado, a exemplo de Equador, Venezuela e Bolívia.”

ADMIRADOS

A pesquisa da Llorente & Cuenca também apontou os políticos e empresários mais admirados entre os executivos da América Latina e Espanha. No Brasil, o político mais admirado é o presidente americano, Barack Obama, seguido pelo ex-presidente Bill Clinton e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Entre os preferidos latino-americanos, o empresariado brasileiro apontou, antes do seu próprio presidente, o colombiano Álvaro Uribe e a chilena Michele Bachelet.

Em outros países, como Espanha, México, Colômbia e Argentina, Luiz Inácio Lula da Silva foi apontado como o dirigente político da América Latina mais admirado, antes mesmo dos presidentes dessas nações. Entre todos os entrevistados, os governantes da região mais lembrados foram Uribe, Lula e Bachelet. Internacionalmente, a preferência ficou com Obama, Sarkozy e, novamente, Uribe.

Já nos negócios, os brasileiros indicaram Bill Gates, da Microsoft, Emílio Botín, do Santander, e Steve Jobs, da Apple, como os preferidos internacionalmente. Na América Latina, o presidente da Vale, Roger Agnelli é o segundo mais admirado, depois do mexicano Carlos Slim, da América Móvil. Emílio Azcárraga, da Televisa, é o terceiro melhor avaliado entre os empresários do País. Nos oito países pesquisados, Gates, Slim e Jobs também foram lembrados. O único brasileiro que aparece na lista é José Sérgio Gabrielli, da Petrobras (AE).