Pesquisa da OIT revela que as mulheres e os negros sofrem mais com problemas relacionados ao trabalho

De Portal MS, 10/07/09

“A situação do negro no Brasil é alarmante!” A afirmação é da coordenadora de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso do Sul Raimunda Luzia de Brito, ao tomar conhecimento do relatório “Trabalho Decente e Juventude”, lançado no dia 1º de julho, deste ano, em Brasília (DF), pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O documento analisou a situação da juventude no país, no período de 1992 a 2006, e apresenta alguns dos principais programas brasileiros voltados para o segmento. O lançamento aconteceu durante a abertura de uma oficina sobre o tema que, junto com o relatório, irá subsidiar a elaboração da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude. O estudo baseou-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e revelou que a taxa de desemprego entre os jovens é 3,2 vezes maior que a dos adultos. Em 2006, dos 22,2 milhões de jovens ativos, 3,9 milhões estavam sem ocupação.

Os grupos mais afetados pelos problemas relacionados ao trabalho são as mulheres e os negros. O déficit de emprego entre as mulheres jovens é de 70,1% contra 65,6% entre os homens da mesma faixa etária. Há diferença também entre os jovens negros (74,7%) e os jovens brancos (59,6%). Esses dados mostram, segundo a diretora do Escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, que as jovens negras vivem uma situação de dupla discriminação. De acordo com o relatório, o índice de desemprego e informalidade entre as pessoas desse grupo chega a 77,9% .

O estudo também revela que há uma diferença significativa no nível de escolaridade entre jovens brancos e negros. Enquanto apenas 7% dos jovens brancos têm baixa escolaridade, segundo o relatório esse índice chega a 16% entre os jovens negros.

Programa do governo

Ao fazer uma análise sobre o relatório divulgado pela OIT, a coordenadora da Cppir disse que a OIT é uma grande parceira dos governos Estadual, Municipal e Federal. “Está sempre colaborando e capacitando pessoal”. Raimunda também fez elogios aos programas do Governo do Mato Grosso do Sul voltados para juventude sul-mato-grossense. Dentre as diversas ações realizadas no Estado para esse seguimento, ela destacou o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Educação, Qualificação e Ação Comunitária (ProJovem Urbano). O programa no Estado, que está sob coordenação da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas) disponibiliza três mil vagas para sete municípios (Coxim, Dourados, Naviraí, Ponta Porã, Rio Brilhante, Três Lagoas e Rio Verde de Mato Grosso).

“O ProJovem vai capacitar o jovem para o primeiro emprego. Também temos, no governo, a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Juventude, e a Fundação de Trabalho e Qualificação Profissional de Mato Grosso do Sul (Funtrab). São órgãos que estão com trabalhos também voltados para esse seguimento”, informou Brito

Negros

Porém, ao falar sobre a situação da população negra no Brasil, ela disse que é alarmante! “Primeiro, porque quem morre mais é o negro. Nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, está uma matança de jovens negros enorme!”, afirmou ela, lembrando que a maioria dos jovens negros assassinatos são jovens de 14 a 25 anos que não tinham passagens pela polícia e que estavam trabalhando em sub-empregos.

Segurança

Quanto à área da segurança pública, Raimunda disse que está aguardando uma resposta do Comandante da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e da Diretoria Geral da Polícia Civil, para participar dos cursos de formação para oficiais, que são realizados pela corporação no Estado.

Em 2008, representantes das entidades do Movimento Negro do Estado reuniram-se com o comandante geral da Polícia Militar, coronel Geraldo Garcia Orti, para tratar de assuntos sobre questão racial – violência. Segundo Raimunda de Brito um dos principais assuntos é a abordagem por parte dos policiais à população negra, e ainda, a questão racial.

“Queremos participar dos cursos que são realizados pelos oficiais militares para falarmos sobre a questão racial”, explicou a coordenadora da Cppir, que também não deixou de lembrar que agora temos uma mulher negra, delegada corregedora da Polícia Civil, na presidência do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine). O órgão que é ligado a Setas é presidido pela delegada Marlene de Aguiar Justino da Cruz. “Isso deu uma visibilidade diferente”, comentou Raimunda.