literatura

Travestis, bonés e crachás

Passos rápidos pela rua. Ouço dois travestis comentando um com o outro, que foi acordado agora há pouco. Passa uma pickup e o passageiro põe a cabeça para fora, gritando algo para os travestis que nesse minuto já ficaram para trás. Só ouço que um deles responde um “gostoso!…” meio fraco, meio baixo, meio por costume, meio por obrigação e continua a conversar. São apenas 18h, mas o centro de São Paulo é o centro de São Paulo. Quem mora, trabalha ou estuda no centro, está acostumado a ver de tudo. Uma moça com crachá da Prefeitura fala ao celular, ao lado de moradores de rua. Difícil é tirá-los da rua e eles não voltarem, e muitas vezes para o mesmo local. A viatura parada. Os policiais acabam de liberar quatro rapazes de boné e bicicletas. Por hoje foi só. Não vi mais nada, não ouvi mais nada, ou foi o cansaço da subida à pé… Ao cruzar a fronteira de Higienópolis, esses personagens saem de cena. Agora apenas guardadores de carro.

(C.Corrales, 2007)

Post original no site Overmundo: Crônica – Travestis, bonés e crachás