Pesquisa Social

Pesquisa mostra que mulheres começam a fumar antes que homens

Do G1 – 2/9/2010

Elas param de fumar em proporção maior, diz Instituto Nacional do Câncer.

Casal de fumantes no Sudeste gasta R$ 1,5 mil por ano em cigarros.

Em pesquisa feita para marcar o Dia Nacional de Combate ao Fumo, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou nesta segunda-feira (30) que no Brasil, entre os cerca de 25 milhões de fumantes, as mulheres começam a fumar mais cedo do que homens. No entanto, de acordo com o Inca, elas param de fumar numa proporção duas vezes maior do que a dos homens.

Segundo dados da Pesquisa Especial de Tabagismo, entre os jovens, os homens fumam 2,5 mais do que as mulheres. E entre as outras faixas etárias da população essa proporção é menor.

De acordo com a pesquisa, há no Brasil cerca de 25 milhões de fumantes com idade igual ou superior a 15 anos de idade. No entanto, de acordo com o Inca, houve queda no consumo de tabaco nas últimas décadas. De acordo com a pesquisa, 45,6% dos fumantes tentaram parar de fumar nos últimos 12 meses, o que correspondeu a cerca de 12 milhões de pessoas.

De acordo com o Inca, o estudo tem como objetivo fornecer informações para subsidiar a política nacional de controle do tabaco.

Cigarro na economia

A pesquisa revela que o cigarro, um dos principais fatores de risco para o câncer, também causa forte impacto no orçamento doméstico. De acordo com o estudo do Inca, uma família composta por um casal de fumantes, entre 45 e 64 anos, residente em uma cidade do Sudeste do país gasta, por mês, somente com a compra de cigarros, R$ 128,60. Por ano, a despesa chega a R$ 1.543,20.

De acordo com o Inca, o estudo foi realizado como parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD 2008), do IBGE.

Segundo a pesquisa, o gasto com cigarro para um casal de fumantes de qualquer região do país chega a R$ 1.495,20 por ano. O Inca comparou o valor gasto em cigarros com o que seria gasto para comprar uma TV de LCD de 32 polegadas, um computador, ou uma geladeira duplex.

Todos os valores foram calculados com base em 2008. Naquele ano o valor do salário mínimo era R$ 415, o que levaria esse gasto com cigarro a quase quatro salários mínimos por ano.

De acordo com o Inca, segundo o Banco Mundial e o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, tabaco e pobreza formam um ciclo vicioso, que atrasa o desenvolvimento dos países.

Os maiores percentuais de fumantes no Brasil, entre ambos os sexos, foram encontrados entre a população sem instrução (25,7%) e entre as pessoas de menor renda (21,3%), o que correspondia à população que ganhava menos de meio salário mínimo por mês.

Jovens não procuram ajuda para deixar de fumar

A pesquisa fala que a geração de brasileiros nascida a partir da década de 80 começa a fumar, em média, aos 17 anos. No Nordeste e no Centro-Oeste, começa-se ainda mais cedo: antes dos 15 anos de idade. O estudo revela ainda que a proporção de jovens do sexo feminino que começa a fumar antes dos 15 anos de idade é 22% maior do que a dos homens, em todas as regiões do país.

A pesquisa revela ainda que os jovens são a parcela da população que menos procurou ajuda para deixar de fumar, apesar de 48% das pessoas dessa faixa etária terem relatado sucessivas tentativas de parar de fumar nos últimos 12 meses.

A pesquisa foi feita em pouco mais de 51 mil domicílios, entrevistando fumantes, não fumantes e ex-fumantes. O trabalho, que, de acordo com o instituto, é a mais completa pesquisa feita sobre tabagismo no Brasil, foi realizado em outros 13 países. Internacionalmente, a pesquisa é conhecida como Global Adult Tobacco Survey (Pesquisa Global de Tabagismo).

Jovens e o tabaco

O Inca destacou como uma das informações mais relevantes da pesquisa em relação à juventude a constatação de que os jovens são mais sensíveis à propaganda pró-tabaco do que os adultos: 48,6% dos jovens relataram ter percebido propaganda pró-tabaco ante 38,7% dos adultos. Para o instituto, esse resultado pode indicar que existe um esforço da indústria para atingir os indivíduos com 24 anos de idade ou menos nas ações de promoção e propaganda de produtos do tabaco. E fortalece a necessidade de criar estratégias de informação sobre controle do tabaco junto aos jovens por meio de formatos e conteúdos diversificados.

Os jovens relataram na pesquisa um nível de dependência à nicotina elevada ou muito elevada cerca de 50% inferior ao dos adultos, o que mostra a importância do estímulo à cessação entre essa população, e principalmente da prevenção, para evitar que comecem a fumar.

O nível de dependência foi medido por meio de duas perguntas: o número de cigarros fumados por dia e o tempo que a pessoa leva para acender o primeiro cigarro após acordar. O cruzamento dessas respostas determinou o nível de dependência que pode ser baixa, elevada ou moderada.

No período pesquisado, os jovens foram 10% mais expostos ao fumo passivo em locais públicos do que os adultos.

De modo geral, segundo o Inca, os dados demonstraram a necessidade de explorar melhor as ações de controle do tabagismo entre a população de 15 a 24 anos. Exemplo: os jovens percebem menos a propaganda antitabaco veiculada por meio do rádio. Essa constatação aponta para a necessidade de adaptar a linguagem do rádio a esse público. É também preciso reforçar as mensagens sobre prevenção e cessação tanto em rádio quanto em TV.

Cigarro em locais públicos

A pesquisa confirmou para o Inca a urgência de reforçar as recomendações da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. O Inca informou que a convenção é o primeiro tratado de saúde pública da história, ratificado por 168 países-membros da Organização Mundial de Saúde, de um total de 192. O texto determina, por exemplo, ações específicas de proteção ao tabagismo passivo.

A pesquisa ainda apontou que uma em cada cinco pessoas foram expostas à fumaça do cigarro em locais públicos em geral, sem incluir o local de trabalho, o que correspondeu a cerca de 26 milhões de pessoas, das quais 22 milhões eram não fumantes.

“É preciso que a legislação em vigor, que ainda permite fumódromos, seja alterada para impedir 100% o uso de produtos do tabaco que emitem fumaça em ambientes coletivos e fechados”, alertou Liz Maria de Almeida, gerente de Divisão de Epidemiologia do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Ainda de acordo com o estudo, do total de pessoas de 15 anos ou mais, 96,1% acreditavam que fumar poderia causar doenças graves. Outro dado em destaque é a elevada percepção da relação entre o uso de tabaco e o câncer de pulmão: 94,7% do total das pessoas entrevistadas, sendo 90,6%, fumantes e 95,6%, não fumantes.

Outro problema grave é o tabagismo passivo. “Quanto mais cedo, uma pessoa é exposta ao cigarro em ambientes com fumantes, maior a possibilidade de vir a desenvolver câncer na vida adulta”, conclui o cirurgião torácico e diretor do Hospital do Câncer I, Paulo de Biasi.

Pesquisa revela que uma em cada sete mulheres já abortou no Brasil

Da Agência Brasil, em 05/06/10

Uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já abortou. Cerca de 80% delas têm religião, 64% são casadas e 81% são mães. Isso é o que mostra o primeiro levantamento direto sobre o aborto no País, feito pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.

Foram entrevistadas 2.002 mulheres, das quais 15% declararam já ter abortado. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número representa 5,3 milhões de mulheres.

Um dos mitos derrubados pelo estudo é o de que abortar é mais comum em classes sociais mais baixas e entre adolescentes. “Quem aborta é a mulher comum, é sua prima, namorada ou vizinha”, afirma um dos coordenadores do estudo, o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Medeiros.


O aborto ocorre em todas as classes sociais, mas, na maioria das vezes – aproximadamente 35% dos casos -, a mulher recebe entre dois e cinco salários mínimos. A faixa etária em que há mais abortos vai de 20 a 24 anos. Cerca de 24% das entrevistadas declararam ter feito o aborto nessa idade.

Os dados da pesquisa são inéditos porque até agora os números sobre aborto no Brasil eram baseados em estimativas indiretas, como a procura por serviços públicos de saúde após um aborto.

Para Medeiros, o dado mais surpreendente é o de que 55% das mulheres são internadas logo após o aborto. “É uma taxa muito alta e isso é gravíssimo, porque significa não só que essas mulheres precisaram ir a um hospital, mas que permaneceram lá com sérias complicações de saúde”, afirmou.

O pesquisador defende a descriminalização do aborto como forma de reduzir os danos à saúde da mulher. “Esses números terão impacto nas discussões sobre a legislação; afinal, agora sabemos que a mulher que aborta está no nosso cotidiano. Você quer que sua conhecida que abortou seja presa?”, questiona.

Atualmente, só é permitido abortar se a gravidez oferece risco à vida da mãe ou quando é resultado de estupro. Ainda este ano, o Supremo Tribunal Federal deve decidir sobre a permissão da retirada do feto também em casos de anencefalia (má-formação que impede o desenvolvimento do cérebro).

No Congresso, deve ser votado o Estatuto do Nascituro, lei que garante proteção jurídica aos embriões, o que eliminaria a possibilidade de aborto legal em qualquer caso, inclusive no de estupro.

Há 50 anos, ‘’Estado’’ publicava 1ª grande pesquisa sobre favela

Do Estadão, em 16/05/10, por Felipe Werneck

A cidade do Rio tinha 94 favelas há 50 anos, quando o Estado publicou em dois suplementos o resultado do estudo “Aspectos Humanos da Favela Carioca”, encomendado pelo jornal e coordenado pelo sociólogo José Arthur Rios, hoje com 88 anos.

Foi a primeira grande pesquisa realizada sobre o tema na então capital do País, diz o antropólogo Marco Antonio Mello, de 62, coordenador do Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Seria possível dizer que os sociólogos e antropólogos que estudam cidades e sobretudo o Rio se dividem até hoje entre aqueles que leram “Aspectos Humanos da Favela Carioca”, os que ouviram falar e aqueles que não leram. Não havia nada semelhante feito até então sobre essas áreas. Foi muito importante para várias gerações de pesquisadores brasileiros.”

Agora, no cinquentenário da publicação, será realizado o colóquio “Aspectos Humanos da Favela Carioca: ontem e hoje”. Durante três dias, a partir de quarta-feira, o tema será debatido no salão nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, no Largo de São Francisco, no centro. Está prevista a participação de cerca de 50 palestrantes, entre eles a socióloga Licia do Prado Valladares, autora de análise do programa de remoção de favelas do Rio editada em 1978, “Passa-se uma Casa”, que virou um clássico. As antropólogas Janice Perlman, dos Estados Unidos, e Colette Pétonnet, da França, vêm para o evento.

A pesquisa publicada pelo Estado foi realizada pela Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais (Sagmacs), sob orientação do padre francês Louis Joseph Lebret, que fundara na década de 1940 o movimento Economia e Humanismo. O trabalho durou dois anos. Nos dias 13 e 15 de abril de 1960, uma semana antes da inauguração de Brasília, os tabloides chegaram às bancas, com 88 páginas.

Coordenador do colóquio, Mello diz que “paradoxalmente questões colocadas pelo estudo permaneceram ignoradas pela grande maioria dos planejadores urbanos”. “Por exemplo: o mito de que a favela é uma comunidade. Essa ideia de comunidade foi uma coisa trágica”, diz ele. “O estudo mostra a profunda diferenciação interna desses grupos. Que há interesses, estilos, expectativas, trajetórias, origens e formas de sanção internas distintas. Mostra que não existe a favela, mas favelas.”

Só 1,7% das cidades têm delegacias da mulher

Do iG, em 13/05/10, por Matheus Pichonelli

Pesquisa mostra ainda que apenas 18,7% dos municípios possuem organismos voltados à temática de gênero

IBGE mostra o retrato dos municípios brasileiros. Veja os principais pontos da pesquisa

Embora no Brasil existam leis específicas de combate à violência contra mulher, apenas 397 dos 5.565 municípios do País possuem atualmente delegacias de polícia especializadas no atendimento a essas vítimas. Isso significa que, de cada cem cidades brasileiras, apenas sete possuem entidades responsáveis para apurar casos específicos de agressão contra mulheres. Dessas, 192 estão no Sudeste.

Maioria da população, as mulheres dispõem atualmente de casas-abrigo em apenas 262 municípios e centros de referência de atendimento em somente 559 cidades. Para todo o País existem 469 núcleos especializados de atendimento às mulheres nas defensorias públicas e 274 com juizados especiais de violência doméstica e familiar. Entre as cidades com casas-abrigo, por exemplo, 35% estão no Sudeste – enquanto na Paraíba não existe uma instituição como essa.

Os dados constam da mais recente pesquisa sobre o Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão 2009 (Munic), do IBGE. Pela primeira vez, o levantamento tratou de questões como direitos humanos, Saúde e políticas de gênero nas administrações municipais. Os resultados apontam que o Brasil ainda possui um longo caminho até que os grupos vulneráveis da população passem a ser tratados como prioridades no âmbito das instituições locais.

Política de gênero

Exemplo disso é que atualmente apenas 18,7% dos municípios possuem organismos voltados à temática de gênero. Enquanto o percentual chega a 90% em cidades com mais de 500 mil habitantes, o número é de 10,3% em locais com menos de 5 mil habitantes. Entre os municípios nordestinos, 417, ou quase um quinto do total, possuem estruturas de políticas para as mulheres – mais do que em todo o Sudeste, com 262 municípios. Em Roraima, no Norte do País, não há nenhum organismo dessa natureza.

O instituto, no entanto, ressalta em seu relatório que a existência de organismos de políticas para mulheres não assegura condições de desenvolvimento adequado dos trabalhos. De acordo com a avaliação, a escassez de recursos humanos e financeiros é um fator que ainda impede uma articulação adequada entre gestores e população.

Segundo o IBGE, desde 2004 os órgãos da administração pública federal trabalham segundo as orientações do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, cuja municipalização e estadualização têm sido estimuladas. Os trabalhos, porém, ainda são incipientes. Prova disso, segundo o instituto, são os dados da Munic que apontam que apenas 193 municípios, ou 3,5% do total, possuíam planos municipais de políticas para as mulheres. Destes, 74 são municípios do Nordeste. Ou seja: em muitos casos, há estrutura, mas não trabalhos efetivos de combate à violência doméstica.

A pesquisa apontou que existem no País mais municípios desenvolvendo ações de gênero em parceria do que municípios com mecanismos próprios: são 1.799 contra 1.043. Grande parte das ações executadas em parceria se dá por meio do apoio da própria administração pública municipal (64,0%), seguida dos governos federal e estadual (33% e 32%, respectivamente) e organizações não governamentais (29%). Outros 2% dos municípios desenvolvem atividades em conjunto com organizações religiosas.

O levantamento mostra também que quanto maior o município “mais intenso é o direcionamento de esforços e recursos para o desenvolvimento de ações” para a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), negros e indígenas. O número de prefeituras que possuem programas para esses grupos é de 130 (2,3% do total), enquanto a estimativa é que 24,9% da população pertençam a algum desses grupos.

Apenas 92 cidades, ou 1,7% do total, reconhecem direitos da população LGBT. Isso significa que 39,7 milhões de habitantes desses municípios, que representam 20,8% da população brasileira, são cobertos por alguma legislação específica. Dessas cidades, 24 estão situadas em oito regiões metropolitanas. Isso também é bacana

Direitos Humanos

A pesquisa apontou ainda que apenas 79 municípios brasileiros possuem conselhos municipais de direitos humanos, dos quais 44 não possuem sequer órgão gestor responsável por implementar uma política para o setor. Detalhe: apenas 57 desses conselhos realizaram reuniões nos 12 meses anteriores à pesquisa. Um quarto dos municípios tem algum tipo de estrutura específica para direitos humanos – no Piauí, estava presente em 75% das cidades.

Em relação às crianças, outro dado da pesquisa é que, embora o Estatuto da Criança e do Adolescente preveja que todos os municípios brasileiros devam ter pelo menos um Conselho Tutelar, em 92 cidades (21 só em Minas Gerais) eles simplesmente não existem.

Outro avanço constatado pela pesquisa foi que em dez anos foram criados novos conselhos tutelares, que foram instalados em quase todos os municípios do País (98,3%, contra 55% de 1999). Já a questão dos idosos também ganhou importância, sobretudo a partir do Estatuto do Idoso, de 2003. Hoje, quase 60% dos municípios possuem ações voltadas para este público.

Minorias étnicas também passaram a ganhar relevância pelo País nos últimos anos: atualmente, 290 municípios já reconheceram a existência de acampamentos ciganos em seus territórios, o que dá a possibilidade, segundo o instituto, de se promover inclusão sociocultural dessas comunidades.

Região central de São Paulo possui maior taxa de suicídios

De Notícias da USP – 16/03/10
Por Felipe Maeda Camargo / Agência USP

A partir de dados da Prefeitura de São Paulo e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do período de 1995 a 2006, o pesquisador Daniel Hideki Bando verificou que o agrupamento de 18 distritos da região central, centro-sul e centro-oeste da cidade apresenta o maior taxa de suicídios (6,3 para 100 mil habitantes).

O estudo de Bando, fruto de sua dissertação de mestrado para o Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, também constatou que a elevada taxa está associada ao fato de os suicidas serem de distritos de maior renda, a maioria solteiros, migrantes e católicos, quando comparados a outras regiões da cidade. O agrupamento engloba bairros como Alto de Pinheiros, Barra Funda, Bela Vista, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Liberdade, Moema, Morumbi, Pinheiros, Perdizes, República, Santa Cecília, Sé e Vila Mariana.

Já em 14 distritos da região sul (Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Dutra, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Santo Amaro, Socorro, Pedreira, Raposo Tavares, Vila Andrade e Vila Sônia) o quadro é o oposto. Esse agrupamento tem a menor taxa de suicídio (3,3 para 100 mil habitantes), o qual coincide com o fato de ser a região com maior número de casais e de evangélicos da cidade.

Segundo Bando, esses dados estão próximos aos chamados fatores de risco levantados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), condições sociodemográficas em que há mais casos de suicídio. O quadro da OMS de 2002 aponta as condições de ser solteiro e migrante, e fazer parte de estrato econômico extremo, como fatores de risco para o suicídio.

Isso pode demonstrar uma possível relação com a elevada taxa de suicídio no agrupamento da região central de São Paulo, onde certas características preenchem os requisitos desses fatores de risco: região de elevada renda (fazer parte de estrato econômico extremo), com bastantes solteiros e migrantes.

No entanto, não se pode afirmar que há uma relação direta entre o número de suicídios e esses aspectos, visto que a pesquisa de Bando não analisou as características das pessoas que se suicidaram, ou seja, foram analisados dois bancos de dados diferentes. “É difícil concluir algo, ainda tem muita coisa para se estudar. Mas (o estudo) já é uma evidência”, diz o pesquisador.

Divisão por regiões

Apesar de aproveitar dados da Prefeitura e do IBGE, Bando destaca que seu trabalho os desenvolveu com mais profundidade, pois “as taxas de suicídio nunca foram mapeadas na cidade e não há estudos recentes sobre os fatores de risco.”

O pesquisador, sob a orientação da professora da FFLCH Ligia Vizeu Barrozo, utilizou um programa de geoprocessamento para identificar o agrupamento de risco ao suicídio por determinadas regiões. Cada agrupamento podia ter no máximo 50% da população da cidade.

Ao analisar uma possível relação das taxas com os fatores de risco para suicídio, Bando se baseou também num estudo feito pelo sociólogo Émile Durkheim. “As variáveis (fatores de risco ao suicídio) foram parecidas com as que Durkhein estudou na França no final do século XIX.”, afirma Lígia sobre as semelhanças dos dois trabalhos.

Pelo estudo de Durkheim, Bando aproveitou a teoria do sociólogo sobre integração social para explicar os fatores de risco encontrados: “Uma das idéias dela (da teoria) diz que ‘o suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos grupos sociais que a pessoa faz parte’”, explica Daniel, que diz que certos fatores de risco encontrados se encaixam nessa teoria. O pesquisador exemplifica com a situação da pessoa solteira, que tem maiores chances de não estar integrada a um grupo social, mais destacadamente uma família, o que pode propiciar o suicídio.

Contudo, a identificação dos católicos diverge com o levantamento da OMS que aponta o protestantismo como fator de risco ao suicídio. “A explicação se adapta à peculiaridade de São Paulo. No nosso caso, se observa que os evangélicos estão mais unidos entre eles”, ressalva Bando. Sua orientadora completa que esse aspecto dos evangélicos funciona como uma “ajuda social” contra o suicídio. “Já os católicos são mais dispersos, o que os põe, de acordo com a tese de Durkheim, numa categoria de risco”, diz Ligia.

O estudo de Bando e Ligia será publicado em forma de livro, com o lançamento previsto para o primeiro semestre de 2010 pela editora Humanitas/Fapesp.

Mais informações: danhideki@gmail.com