Fusões

Reviravolta no varejo em 2012?

Era Abilio Diniz no Pão de Açúcar pode terminar em 2012

Por Claudia Facchini, iG

O ano de 2012 deve ser decisivo para o empresário Abilio Diniz, filho do fundador do Grupo Pão de Açúcar e responsável pela reviravolta da companhia, que quase foi à falência nos anos 80.

Em 2005, Diniz tirou toda a sua família do capital do Grupo Pão de Açúcar (seus filhos inclusive) e vendeu 50% do controle da companhia para o grupo varejista francês Casino, com o qual já possuía um acordo acionário desde 1999.

Apesar de passar a dividir meio a meio os vetos e os direitos com o Casino, Diniz manteve a gestão do Pão de Açúcar em suas mãos e foi, até hoje, quem sempre deu as cartas na varejista.

Mas, a partir do ano que vem, esse equilíbrio pode mudar. O Casino terá direito de comprar mais ações de Abilio Diniz, passando a assumir, em teoria, o leme dos negócios. Assim, em 2012 terminaria também, pelo acordo original, o mandato do empresário à frente da gestão do Grupo Pão de Açúcar.

Abilio sai de cena?

No entanto, será que Abilio, como é chamado pelas pessoas mais próximas, sairá mesmo de cena? Fontes ouvidas pelo iG apostam que não. Para aqueles que acompanharam a trajetória do empresário, conhecido por seu físico atlético e cuidados com a saúde, é difícil visualizá-lo à margem, sem um projeto sobre sua mesa – ser for um problema, ainda melhor. Em entrevistas concedidas no passado, o próprio Abilio já disse que previa manter a gestão dos negócios a partir de 2012.

O empresário demonstrou ter capacidade de sobra para dar grandes viradas. Em 2009, após comprar o Ponto Frio da viúva do banqueiro Edmond Safra, Abilio conseguiu o que parecia ser remoto: um acordo com a família Klein, dona da Casas Bahia. A sociedade uniu os dois clãs mais poderosos do varejo brasileiro e ainda deu a Diniz o controle, ou 51%, dos negócios.

Com uma estratégia agressiva de aquisições e expansão, viabilizada em parte pelos recursos do Casino, Abilio transformou a sua empresa na maior cadeia brasileira de lojas, desbancando os dois maiores grupos varejistas do mundo, o Walmart, dos EUA, e o Carrefour, da França.

 

Zigue-zague nos corredores

Na avaliação de um executivo da área de fusões e aquisições, pode não ter sido por acaso que tenham aparecido agora rumores envolvendo uma possível fusão entre o Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar.

Abilio Diniz em lançamento da autobiografia de Maílson da Nóbrega

Com a aproximação da saída de Abilio Diniz do Grupo Pão de Açúcar, em 2012, é de se supor que existam conversas nos bastidores e zigue-zagues nos corredores das empresas.

Procurado, o Grupo Pão de Açúcar afirmou que desconhece a informação e não irá comentar especulações (sobre a fusão com o Carrefour).

A entrada de Abilio no capital do Carrefour daria uma grande projeção ao empresário brasileiro, que passaria a ter assento no conselho da segunda maior rede de varejo do mundo, com vendas de 101 bilhões de euros (R$ 231,8 bilhões).

O valor equivale a seis grupos Pão de Açúcar, que faturou R$ 36,1 bilhões em 2010.

Mas nada vai acontecer sem a concordância de Saint-Etiénne, cidade onde está a sede do Casino, diz uma fonte.

O acordo de Diniz com o grupo francês é considerado um grande obstáculo para qualquer negociação envolvendo terceiros, sobretudo porque o Casino poderá assumir o controle do Pão de Açúcar no ano que vem. Em suas entrevistas, Abilio costuma elogiar o sócio francês, Jean-Charles Naouri, e já afirmou várias vezes que mantém boas relações com o Casino.

O Casino e o Carrefour são concorrentes aguerridos. Além da França e do Brasil, as duas redes francesas competem na Colômbia e na Argentina.

Complexidade

Por sua elevada complexidade, uma possível operação entre o Carrefour, Pão de Açúcar e Casino é motivo de ceticismo entre executivos do setor. Além de as empresas possuírem ações listadas em diferentes bolsas, haveria uma reação negativa entre as autoridades antitruste nos países onde as três redes atuam. Também não é esperado que o Walmart, o concorrente mais prejudicado pela possível fusão do Carrefour com o Pão de Açúcar, fique calado.

Segundo um consultor da área de fusões e aquisições, seria mais natural (e menos complexo) que o Walmart comprasse os negócios do Carrefour no Brasil, adquirisse o Casino na França ou o Grupo Pão de Açúcar no Brasil. Ou ainda que algum outro grande grupo mundial de varejo o fizesse, como a Tesco, do Reino Unido.